Erliquiose canina: saiba mais sobre a doença
A Erliquiose canina, mais conhecida como doença do carrapato, é muito grave. Esclareça suas dúvidas sobre a doença.
Erliquiose canina é uma doença infectocontagiosa que tem grande incidência nos meses mais quentes, principalmente no verão. Causada pela bactéria Ehrlichia canis, sua principal transmissão ocorre pela picada do carrapato e pode provocar graves sinais clínicos. Para esclarecer as dúvidas sobre a Erliquiose, a Médica Veterinária da VP, Dra. Gisele Tesserolli, desenvolveu um artigo completo sobre a doença. Confira:
O que é a Erliquiose e como ocorre a transmissão.
A Erliquiose é uma doença infectocontagiosa, causada por um hemoparasita chamado Ehrlichia sp. A principal espécie que acomete os cães é a Ehrlichia canis. Sua transmissão pode ocorrer pela participação do carrapato Rhipicephalus sanguineus (também conhecido como carrapato vermelho do cão), que funciona como vetor (inoculação de sangue infectado) e como reservatório da enfermidade (o carrapato pode permanecer infectante por aproximadamente um ano). A transmissão da Ehrlichia entre cães também pode ocorrer por transfusão sanguínea.
Na última década, a Erliquiose tem sido identificada como causa de morbidade e mortalidade nos animais e no homem, representando uma importante zoonose, em decorrência da maior exposição humana a locais onde o carrapato se faz presente e em regiões onde a Erliquiose canina é enzoótica.
No Brasil, a maior prevalência é observada na região Nordeste e a menor na região Sul do país.
Infecção e sintomas
A infecção do cão sadio ocorre no momento do repasto do carrapato infectado, quando há inoculação de sangue infectado em um cão sadio. Após um período de incubação de 8 a 20 dias, a Ehrlichia se multiplica em alguns órgãos (fígado, baço e linfonodos), por isso a fase aguda da doença caracteriza-se por uma hiperplasia linforreticular com posterior inflamação.
Fase aguda
Nessa fase observa-se hipertermia (39,5 a 41,5º C), anorexia, perda de peso, astenia e outros sinais clínicos inespecíficos (corrimento óculo-nasal, epistaxe, uveíte e diarréia, por exemplo).
Títulos de anticorpos negativos podem ocorrer nesse período. A gravidade dos sinais clínicos varia entre os cães, assim como a intensidade do pico febril.
Fase subclínica
Após a fase aguda, inicia-se a fase subclínica, onde a E. canis pode persistir no organismo do cão, promovendo altos títulos de anticorpos. Essa fase pode perdurar por até 5 anos e irá acarretar alterações hematológicas (trombocitopenia, leucopenia variável e anemia), não havendo sinais clínicos evidentes, no entanto, pode-se observar persistência da depressão, hemorragias, edema de membros, perda de apetite e palidez de mucosas. Em alguns cães o hemoparasita poderá ser eliminado do organismo durante a fase subclínica.
Fase crônica
Quando a resposta imune do hospedeiro for incapaz de eliminar o agente, tem-se então a doença crônica, que geralmente é assintomática. Nesses casos, a doença poderá ser reativada caso ocorra imunossupressão. A principal característica dessa fase é a hipoplasia medular levando à anemia aplástica, monocitose, linfocitose e leucopenia, podendo ocorrer óbito.
Como é feito o diagnóstico da doença
O diagnóstico da Erliquiose geralmente é feito por meio do histórico, sinais clínicos e achados hematológicos (anemia e trombocitopenia são os mais evidentes). Na história clínica normalmente é relatada presença de carrapatos e sinais clínicos compatíveis com Erliquiose.
O diagnóstico laboratorial pode ser feito através da observação da Ehrlichia canis em esfregaços sanguíneos, reação em cadeia da polimerase (PCR) e Imunofluorescência indireta (IFI). Outro teste bastante simples e disponível é o teste ELISA, para detecção de anticorpos IgG contra E. canis no soro de cães suspeitos. Esse teste é muito útil no monitoramento dos níveis de anticorpos, principalmente nas fases subclínica e crônica, quando é muito difícil encontrar a E. canis em esfregaços sanguíneos.
Tratamento e prevenção
Apesar da severidade que a enfermidade pode alcançar, o tratamento é relativamente simples. Consiste na administração de antibióticos, sendo a Doxiciclina o de escolha; além do tratamento de suporte que inclui transfusões sanguíneas (nos casos de anemia e trombocitopenia severas), fluidoterapia e administração de protetor gástrico e hepático. O tratamento pode durar de 3 a 4 semanas nos casos agudos, e até 8 semanas nos casos crônicos.
A prevenção contra a Erliquiose é muito importante em canis e em locais de grande concentração de cães. Devido à inexistência de vacina contra essa enfermidade, a prevenção é realizada pelo controle do carrapato. Produtos acaricidas ambientais e de uso tópico são eficazes, desde que manejados corretamente. Todo animal que entrar em um canil deverá ser mantido em quarentena e receber preventivamente acaricida tópico. Caso seja positivo para E. canis deverá ser tratado antes do contato com outros cães.
O conhecimento sobre a clínica e o diagnóstico da Erliquiose canina são de grande importância, por ser uma doença de alta prevalência em todo o nosso país, por ter um vetor de difícil erradicação e por possuir importância na saúde pública, já que nas últimas décadas passou a ser considerada zoonose. O diagnóstico precoce é a maior ferramenta para o tratamento adequado da Erliquiose canina, pois quando diagnosticada no início, tem bom prognóstico e grande chance de cura.
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Dra. Gisele Tesserolli de Andrade, Médica Veterinária da VP Diagnóstico. Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná (2001), Mestre em Ciências Veterinárias (UFPR, 2003) e Mestre em Patologia Animal.
REFERENCIAL
- GARRITY, G.M. (ed.). Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology – The Proteobacteria Part C. 2 ed. Nova Iorque: Springer, 2005.
- KOTTADAMANE. M.R. et al. Clinical and biochemical response in canine monocytic ehrlichiosis seropositive dogs. Veterinary World, EISSN: 2231-0916. Available at www.veterinaryworld.org/Vol.10/February-2017/19.pdf
- SILVA, IPM. Erliquiose canina – Revisão de Literatura. Revista Científica de Medicina Veterinária.Ano XIII, n. 24, Janeiro de 2015.
- WANER, T. et al. Comparison of a clinic based ELISA test kit with the IF test for the assay of E canis antibodies in dogs. J. Vet. Diagn. Invest., 12:240–244, 2000.
Créditos das imagens do artigo:
Erliquiose no Brasil
Observação de E. canis (seta) em esfregaço sanguíneo de cão.
Rafael Felipe da Costa VieiraI; Alexander Welker BiondoII,III; Ana Marcia Sá GuimarãesIV; Andrea Pires dos SantosIV; Rodrigo Pires dos SantosV; Leonardo Hermes DutraI; Pedro Paulo Vissotto de Paiva DinizVI; Helio Autran de MoraisVII; Joanne Belle MessickIV; Marcelo Bahia LabrunaVIII; Odilon VidottoI
Fiocruz
Descrição: Infestação de carrapatos de cão (Rhipicephalus sanguineus)
Data de criação: 2015-01-04 00:00:00
Autor: Raquel Portugal
Cidade: Rio de Janeiro
Estado / Distrito: Rio de Janeiro
País: Brasil
Acervo: Fiocruz Imagens
Responsável pela descrição: Raquel Portugal
Direitos patrimoniais: Fundação Oswaldo Cruz
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