Irmãos de adoção: conheça a história de Chico e Morena.
Chico e da Morena, dois cães adultos e sem raça definida, foram adotados por um casal cheio de amor.
Adotar é um ato de amor! E nós adoramos compartilhar histórias de pets resgatados por aqui. Há alguns dias conversamos com a Vanessa Alves, que adotou dois cães adultos, em diferentes ocasiões, mas que parecem irmãos, de tão parecidos que são.
Chico e Morena ganharam mais que um lar, uma tutora preocupada em oferecer as melhores experiências para os cãopanheiros.
Confira o bate-papo que tivemos com a Vanessa:
Como vocês conheceram o Chico?
A adoção do Chico veio de um desejo latente que eu tinha de ter um cãopanheiro na minha fase adulta. A minha última cachorrinha tinha ficado na casa dos meus pais em Curitiba e eu já morava há dois anos em São Paulo, com duas amigas e sem nenhum pet. A vida numa casa compartilhada tem que ser sempre um conjunto de ponderações e acordos, até porque nessa fase da vida os dias são corridos e muitas vezes passamos mais tempo fora do que dentro de casa. Então por algum tempo fui amadurecendo a ideia e conversando com elas sobre a inclusão desse novo membro na casa.
Eu já acompanhava o trabalho de algumas ONGs de proteção animal pela internet e, no início de 2016, a Mel, nossa buldogue inglesa que tinha ficado com meus pais, faleceu. Foi o que me faltava para dar um passo adiante.
Conversei em definitivo com as minhas amigas e elas concordaram em receber esse novo membro, contanto que fosse uma fêmea e que fosse pequena. Próximo do meu aniversário, então, resolvi me dar esse presente e fui com o meu então namorado na feira de adoção de uma das ONGs que eu acompanhava. Até lembrei das recomendações das minhas amigas, mas depois de ver o Chiquinho chateado, deitadinho num canto do cercado, e ouvir a sua história, não tive dúvidas de que seria ele o meu novo melhor amigo.
E quando decidiram adotar a Morena?
A Morena chegou três anos depois, em 2019. Nesse momento eu, meu companheiro e o Chiquinho já morávamos juntos há dois anos. Até então éramos um ótimo trio, morávamos num apartamento pequeno, mas que nos atendia muito bem. No entanto, eu nunca deixei de acompanhar o trabalho das ONGs e tinha sempre vontade de abraçar e acolher todos os cães e gatos que eu via serem resgatados. Foi quando, no final de 2018, prestes a nos mudarmos para um apartamento maior, resgatei um gatinho da rua. Chamei ele de Tupã, trovão na mitologia tupi-guarani.
Ficamos com ele por dois meses e se dependesse de mim, obviamente, teríamos ficado para sempre, mas meu companheiro não se adaptou, estávamos mudando para um novo apartamento cheio de janelas e ainda sem nenhuma proteção, e chegamos num acordo de que encontraríamos uma família especial para o Tupã. Em contrapartida, também aumentaríamos a nossa com mais um cachorro.
Está pensando em adotar um pet? Saiba mais sobre a importância do protocolo vacinal.
Tivemos muitos feedbacks negativos por parte de familiares e amigos que achavam que dois cães seria o dobro ou até mais trabalho, custo, etc, mas isso não me desanimou. Nessa época eu acompanhava bastante o trabalho de uma outra ONG de Campinas e consegui convencer meu companheiro a visitarmos a feira deles, num final de semana. Fomos com a intenção de conhecer uma cachorrinha idosa que havia sido resgatada e estava em tratamento numa clínica veterinária. Obviamente levamos o Chico junto para que ele desse também seu o seu aval. Visitamos essa cachorrinha na clínica e adoramos ela, mas decidimos ir também na feira para conhecer os outros peludos que estavam para adoção. Chico acabou não se dando muito bem com nenhum dos cachorrinhos com os quais tentamos a interação na feira.
Então, uma das voluntárias e protetora que estava lá nos contou que eles tinham outra cachorrinha muito parecida com o Chico na chácara dela, onde eles hospedam todos os peludos resgatados. Fomos até lá para conhecê-la e quando ela trouxe a Moreninha foi quase um susto pela semelhança deles e foi amor à primeira vista.
Como foi o processo de adaptação do Chico? E depois, como foi a reação dele com a chegada da Morena?
Chiquinho foi uma escola para nós. Até então eu só tinha tido cachorros pequenos, de raça, comprados ainda filhotes e não tinha plena noção do que é cuidar e se responsabilizar pelo bem-estar de outra vida. No dia da adoção parecia que ele era o cachorro mais dócil do mundo e que seria tudo muito fácil. Mal tínhamos consciência de que um cachorro adulto traz uma bagagem gigantesca de vivências das quais nunca teremos pleno conhecimento. Nos dias que se seguiram tivemos inúmeros casos de agressividade com quase qualquer pessoa que chegasse perto dele, exceto eu. Como eu nunca tinha vivido esse tipo de experiência, todos os meus cachorros tinham sido sempre pacíficos e passivos, a ponto de se deixarem se “tratar como brinquedos”, fiquei em choque e pensava que teria que devolvê-lo. Entrei em contato com a protetora que havia feito o seu resgate e cuidados antes da adoção e ela me deu muitos conselhos, pediu para termos paciência, tentar entender melhor a situação e me passou o contato de um adestrador.
Até aquele momento a ideia de adestrador, para mim, era somente alguém que ensinaria meu cachorro a sentar e dar a pata, mas o que descobrimos foi que quem precisava de adestramento éramos nós. A partir daí começamos a entender conscientemente que cachorro não é coisa, não é brinquedo e não vai atender sempre às nossas expectativas de temperamento e comportamento. Eles têm personalidade, vontade e necessidades próprias e nós também devemos entendê-las e respeitá-las. Desde então nossas vidas mudaram da água pro vinho e não conseguimos mais imaginar uma vida sem o Chiquinho.
Com a chegada da Morena subimos para outro patamar de consciência sobre esses peludos. Até então nós acreditávamos que tudo o que tínhamos aprendido sobre o Chico se aplicaria para outros cães, como uma fórmula, mas entendemos que cada cachorro tem uma personalidade completamente única, diferente de todos os outros. No começo o Chico tinha muito ciúmes dela, era mais rabugento, rosnava e até já chegou a mordê-la, mas com o passar do tempo e a convivência ele foi aceitando a sua presença e já pegamos até vários momentos dos dois dormindo juntos no sofá ou trocando lambeijos. A Morena, por outro lado, apesar de também ser ciumenta, é extremamente dócil e acredito que se o Chico não fosse tão rabugento eles seriam aquele tipo de dupla fofa e inseparável.
Quais foram os primeiros cuidados com a saúde dos cães? E quais são os cuidados diários com os animais, em passeios e dentro de casa?
Em ambos os casos nossa primeira atitude ao chegar em casa com os novos parceirinhos foi marcar uma consulta com a veterinária e fazer um check up geral. Exames preventivos regulares nos ajudam muito a evitar problemas grandes no futuro e, por mais que o protetor ou criador que cuidou do seu amigo tenha sido cuidadoso, sempre pode haver uma surpresa no quadro de saúde dele. Com o Chico descobrimos de cara que ele tinha displasia coxo-femural provavelmente causada por trauma (um atropelamento). Já a Morena apresentou doença do carrapato e passou por um longo período de tratamento. Felizmente, hoje o quadro dos dois está sob controle e estar cientes disso auxilia na tomada de decisões, tendo em vista a qualidade de vida deles.
Aqui no blog temos um artigo sobre a ‘doença do Carrapato’.
Confira o post sobre Erliquiose canina aqui.
No dia a dia, os cuidados viraram parte da nossa rotina. Passeamos todos os dias, atualmente três vezes ao dia, porque nenhum dos dois faz necessidades dentro de casa, então nos revezamos nessa tarefa. Caminhamos cerca de 2 km por passeio, mas, exceto nos dias mais corridos, damos todo o tempo para eles cheirarem, brincarem e curtirem o passeio. Acreditamos que dar liberdade e o poder de escolhas a eles também faz parte do seu bem-estar, então muitas vezes quem define o trajeto são eles mesmos. Mas um cuidado importante a se ter na rua é estar sempre alerta a tudo o que eles estão farejando. Eventualmente podem acabar comendo algo contaminado e ter problemas com vermes ou outras doenças.
Na volta dos passeios sempre limpamos as patinhas. A saúde de todos agradece. Além dos passeios, a alimentação também é um fator importantíssimo para a qualidade de vida deles. Adotamos, há dois, anos a alimentação natural sem nenhuma possibilidade de voltar para ração. Petiscos só naturais e sem transgênicos. E a escovação dos dentes é outra prática que estamos tentando implementar. Da mesma forma que nos preocupamos com a nossa alimentação, também cuidamos da deles.
Os banhos ficam programados para cada 15 dias e as visitas à veterinária acontecem ao sinal de qualquer problema ou quando um check up se faz necessário. E claro, o principal: muito e muito carinho, cafunés e lambeijos todos os dias.
Como a chegada dos animais mudou a rotina da casa e também a visão sobre os pets?
Nossos parceirinhos mudaram completamente as nossas vidas. Eles nos trazem alegrias diariamente, são uma fonte infinita de amor e nos incentivaram a adotar práticas e rotinas mais saudáveis, seja relacionado a alimentação ou estilo de vida. No começo era um certo sofrimento pensar em sair pra passear todos os dias, várias vezes ao dia. Hoje isso se incorporou na nossa rotina, nos faz bem e nos obriga, mesmo nos dias mais sedentários, a nos mexer e exercitar também.
Tem momentos em que a rotina com eles pode ser um fator limitador para outras atividades, mas é uma decisão e uma responsabilidade que abraçamos e decidimos adotar para as nossas vidas. Não há um dia sequer que eu me arrependa de ter eles aqui.
Confesso que antes das adoções o conceito de cachorro com o qual cresci era de que são seres submissos a nós e com função de segurança da casa ou de companhia (mais como um brinquedo do que de fato uma companhia). Quando pequena, a regra da casa proibia cachorro em cima da cama, ele deveria fazer as necessidades no jornal, dormir na lavanderia (morava em apartamento) e raramente saía para passear. Hoje eu entendo que fazíamos tudo errado. Meus cachorros são meus companheiros, meus amigos e faço sempre o possível para incluí-los na maior parte das minhas atividades.
Qual dica vocês dão para quem deseja adotar cães adultos?
Eu diria para tentar conhecê-lo primeiro. A grande vantagem de adotar um cão adulto é que ele já tem uma personalidade mais definida, ou seja, você já consegue entender se ele é mais ativo, brincalhão, sossegado, dócil, desconfiado, etc. Se a adoção se dá por meio de uma ONG ou protetor independente, provavelmente eles já indicarão qual é o perfil do cão e você poderá avaliar se ele se adequa à sua personalidade e à sua casa. Se você está fazendo um resgate da rua, parabéns! Abrace a causa e tenha paciência. De uma forma ou de outra, adaptações sempre levam tempo independentemente da idade ou perfil do cão e é sempre uma via de mão dupla, pois você também terá que se adaptar a ele (e isso pode significar semanas ou muitos meses). Tenha paciência e entenda que às vezes quem precisar ser mudado não é o cão, mas você. E de resto é só alegria.
No blog da VP já contamos a história de outra adoção de animal adulto.
Conheça a história da Doralice.