EQUINOS: ABORDAGEM SOBRE DERMATOFITOSE
Antes de abordar a Dermatofitose em equinos, precisamos entender como se torna indispensável o conhecimento em saúde única, pois a Dermatofitose é considerada uma zoonose (doença transmitida entre animais e humanos). Entender o conceito de saúde única, também conhecida como One Health, é uma forma de entender a saúde como um sistema que reúne pessoas, animais e meio ambiente. A saúde única contempla várias disciplinas e vários segmentos da sociedade para trabalhar em conjunto na promoção do bem-estar de todos e no enfrentamento às ameaças à saúde e aos ecossistemas. Segundo o Ministério da Saúde, concebe-se que a saúde humana, animal e ambiental estão conectadas e o que aconteça com cada um deles, afetará as demais.
INTRODUÇÃO
As Dermatofitoses são doenças infectocontagiosas que atingem a pele dos equinos, sobretudo os mais jovens. Causadas por fungos chamados Dermatófitos, se dividem em grupos distintos que podem afetar humanos, animais e o solo.
Tricofitose, como também é conhecida, é uma doença cutânea altamente contagiosa, de distribuição mundial, porém mais comumente encontrada em regiões tropicais, devido a umidade e ao calor que propiciam o habitat ideal para estes fungos. A Dermatofitose possui como agentes etiológicos os fungos das espécies: Microsporum sp, Trichophyton sp e Epidermophyton sp, que podem afetar seres humanos (antropofílicos), cães, gatos, bovinos e equídeos (zoofílicos). Em equídeos a Dermatofitose é causada mais comumente pelo Trichophyton equinum, um fungo filamentoso que provoca infecção restrita ao extrato queratinizado da pele, permanecendo somente na superfície da pele. O Trichophyton sp. também pode infectar outras espécies animais causando, de modo geral, lesões secas, arredondadas e comumente não pruriginosas que se distribuem nos tecidos queratinizados da pele (a camada celular córnea da epiderme, pelos e potencialmente as unhas e cascos), levando à autólise das estruturas fibrosas, à fragmentação dos pelos e à alopecia.
Os fungos Trichophyton equinum var. equinum e Trichophyton equinum var. autotrophicum, têm como hospedeiro natural os eqüinos. A doença nesses animais foi descrita pela primeira vez em 1896. Desde então, alguns relatos têm sido encontrados na literatura. Embora esta espécie de Dermatófito seja a principal causa da Dermatofitose eqüina, outras também podem estar envolvidas, como Microsporum equinum, Microsporum canis, Microsporum gypseum, Trichophyton mentagrophytes e Trichophyton verrucosum.
No Brasil, a enfermidade foi diagnosticada pela primeira vez em equinos no Estado do Rio Grande do Sul. Posteriormente, outro relato foi feito em cavalos, neste mesmo Estado, no ano de 1983.
INFECÇÃO E SINAIS CLÍNICOS
O histórico do animal é importante, assim como entender a etiologia e período de incubação. As lesões clínicas inicialmente assemelham-se à urticária, progredindo para a formação de crostas e alopecia, sendo normalmente observadas em áreas de abrasão, principalmente no lombo, na garupa e na cabeça. A transmissão ocorre rapidamente pelo contato direto com animais infectados ou por equipamentos contaminados. O estabelecimento da infecção depende de fatores do hospedeiro como: idade, imunidade, atividade fungistática das secreções cutâneas, enfermidades concomitantes e estados nutricional e hormonal.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico fúngico sempre foi um desafio na rotina veterinária, devido à demora para o isolamento do agente, levando em conta que testes tradicionais (como cultivo fúngico em placa com ágar Sabouraud) resultam em um período de espera de aproximadamente 20 dias. Por isso o uso de testes mais rápidos, que permitam a instituição precoce do tratamento é muito importante nos casos de Dermatofitose, minimizando o contágio para outros animais e humanos.
O RapidVet-D da VP Diagnóstico, é um teste prático e preciso, com um feedback positivo. É possível detectar a presença ou ausência de Dermatófitos na pele de equinos em apenas 4 dias, sem necessidade de estufa para cultivo. Isso é grande um diferencial, pois o Médico Veterinário poderá realizar um tratamento precoce, com prognóstico favorável.
A cultura fúngica é a ferramenta para o diagnóstico definitivo da enfermidade, pois as Dermatofitoses podem ser confundidas com outras afecções cutâneas similares.
TRATAMENTO
Isolamento do animal, diminuição dos estímulos externos que levem a imunossupressão (podem ocasionar redução da imunidade do animal), uso de shampoo antifúngico e antibacteriano. Pode ser necessário tratamento sistêmico com antifúngicos orais (como a Griseofulvina, por exemplo) até a remissão completa dos sinais clínicos, que pode acontecer em 2 meses após início do tratamento.
PREVENÇÃO
O manejo do ambiente é de extrema importância, assim como o cuidado constante com relação ao possíveis fômites (utensílios que podem veicular o agente etiológico entre diferentes hospedeiros) como: cocho de comida e/ou água, roupas, seringas, espéculos, entre outros.
CONCLUSÃO
A Dermatofitose em equídeos tem uma grande importância na Medicina Veterinária pois é uma zoonose. O diagnóstico correto permitirá o início rápido do tratamento, já que é uma infecção de curso longo, que exige atenção por vários meses até completa remissão dos sinais clínicos. Acredita-se que os casos de Dermatofitose em equídeos estejam subestimados, pois não é uma doença de notificação obrigatória no Brasil.
Dra. Gabrielle C. Nascimento. Graduada em Medicina Veterinária pela Faculdade Evangélica do Paraná (2013). Experiência em Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses, na Prefeitura Municipal de Descanso/SC (2021). Atua na área de Clínica Médica de Equinos e Bovinos. Representante da VP Diagnóstico no Oeste Catarinense.
REFERÊNCIAS
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Ministério da Saúde. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-unica/saude-unica). Acesso em: 02/04/2024.
Riet-Correa F., Rivero R., Odriozola E., Adrien M.L., Medeiros R.M. & Schild A.L. 2013. Mycotoxicoses of ruminants and horses. J. Vet. Diagn. Invest. 25(6):692-708. http://dx.doi.org/10.1177/1040638713504572.
Santos A. H. dos; LemosD. C.; SilvaJ. M. S.; CoelhoR. de A.; AndradeR. L. F. S. de. Saúde e produção de ruminantes e equídeos P-183 Dermatofitose por Microsporum gypseum em equino: relato de caso. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 12, n. 1, p. 77-77, 24 out. 2014.